DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUSTENTABILIDADE SÃO SINÔNIMOS?
A noção de Desenvolvimento Sustentável está presente na sociedade, emoldurando inúmeros projetos socioambientais. Historicamente, variadas compreensões foram sendo discutidas na comunidade científica, para consolidar o entendimento que remete à ideia de pacto intergeracional, o compromisso de legar um planeta viável e saudável às futuras gerações. Partindo da crítica ao modelo de desenvolvimento voraz, que exaure os recursos naturais com visão imediatista de lucro, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD), da ONU, apresentou no Relatório Nosso Futuro Comum (1987) um conceito que viria a ser assumido como referencial pelos órgãos internacionais de fomento: “[…] é aquele que responde às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações em atender as suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991, p.9). Esta talvez seja a melhor síntese do pacto intergeracional, que aponta para a necessidade de uma nova relação do homem com o meio ambiente, pautada na ética do cuidado, em prol da continuidade da vida.
Sustentabilidade surgiu como adjetivação de desenvolvimento, mas com sua extensiva utilização, passou a suscitar dúvidas e distintas interpretações – Engelman (2013, p.3,4) comenta o engano de julgar que um uso tão frequente das palavras ‘sustentável’ e ‘sustentabilidade’ indique sua assimilação na cultura, e acrescenta: “o blablablá da sustentabilidade tem um alto custo”. Este custo se refere ao desgaste do termo e, sobretudo, ao uso inapropriado que gera equívocos. Hoje, Sustentabilidade é admitida como uma ciência transdisciplinar, a serviço da preservação e recuperação do sistema, por meio de ações de Responsabilidade social e Responsabilidade ambiental. No mundo corporativo, a proposta é que os resultados sejam medidos nas dimensões econômica, social e ambiental, de forma equilibrada (ELKINGTON, 2004). A figura do triângulo representa este ideal.
Por fim, Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade se complementam, mas não são a mesma coisa. Respectivamente, correspondem à proposta de mudança alicerçada no pacto intergeracional e a práticas socioambientais que devem atender aos requisitos de viabilidade, adequação e justiça, onde: a viabilidade econômica não comporta o pensamento imediatista, a adequação é orientada por uma abordagem preferencialmente preventiva, que considera os limites termodinâmicos do planeta, e a justiça social é assegurada com soluções estruturais inclusivas. O invólucro dessa unidade é a cultura sistêmica do cuidado.
Referências
CMMAD (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991.
ELKINGTON, John. Enter the Triple Bottom Line. Chapter 1. In The triple bottom line, does it all add up? : assessing the sustainability of business and CSR. Editors Adrian Henriques, Julie Richardson. UK, 2004.
ENGELMAN; R. Além do Blablablá da Sustentabilidade. In: ASSADOURIAN, Erick; PRUG, Tom. Estado do mundo 2013: A Sustentabilidade ainda é possível? /Worldwatch Institute Salvador, BRASIL: Uma Ed. 2013. p.3-16.
Autor: Josely Nunes-Villela
Publicado em 06 de maio de 2023
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